sábado, 20 de fevereiro de 2010

inSurreição

O título é curto e grosso: “Quero que a imparcialidade se foda”. Sem rodeios, o jornalista João Céu e Silva do “Diário de Notícias” cavalgou a onda do impacto da revelação e promoveu-a a íman de atracção para a entrevista que a “Notícias Sábado” hoje dedica a Ricardo Araújo Pereira. Noutras alturas abordar-se-ia a aproximação do humorista ao estalinismo do PCP ou falar-se-ia de sexo – por exemplo com quem terá dormido dois antes do encontro no restaurante chinês, ou de como teria sobrevivido às deambulações supostamente libidinosas da “Festa do Avante”. Mas não. Aparentemente hostil, a afirmação decorre de um contexto que os leitores são levados a encontrar nas dez páginas da entrevista: “Volta e meia dizem-me que é muito grave eu não ser imparcial. Eu quero que a imparcialidade se foda, sabe? (…) O humor parte de um ponto de vista sobre a realidade, e cada humorista tem o seu. Não tem o seu e o dos outros”. Poderá parecer uma blasfémia, mas não deixa de ser um dos muitos sinais de inquietação, quando quase tudo à nossa volta ameaça travestir-se de insosso ou cinzentinho. A isenção e a neutralidade não existem quando há opinião. De vez em quando aparece alguém a lembrar-nos disso.

Ricardo Artur de Araújo Pereira, Lisboa, 1974
Ilustração
de Duploele, pormenor, 2008
[ver aqui]

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