domingo, 28 de fevereiro de 2010

vulCão

Jon Voight reconciliou-se com a filha, Angelina Jolie. Não me importa absolutamente nada. Mas é um excelente pretexto para rever este olhar. Demolidor, como sempre.
Angelina Jolie Voight, Los Angeles, EUA, 1975

sábado, 27 de fevereiro de 2010

tréGuas

O conceito salazarista de que a conjunção patriótica de esforços deve unir os portugueses para esquecer as diferenças não pode ignorar que a diversidade enriquece a democracia. E que não é por causa de uma calamidade, dramaticamente devastadora, que o presidente de uma qualquer república das bananas deve deixar de ser considerado boçal e insolente. Ou patético.

Alberto João Jardim, Funchal, 1943
(Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

dePósito

Um estudo agora publicado pela Deco conclui que cerca de um terço das crianças portuguesas passa mais de nove horas encarcerado nas creches. Um psicólogo contactado pelo Diário de Notícias alerta que a média que conhece “é de dez a 12 horas por dia”. A jornalista vai mais longe e revela que, “mesmo deixando os mais pequenos tantas horas no jardim de infância, os pais gostavam que esses estabelecimentos fechassem as portas mais tarde e até que abrissem aos sábados”. E que tal 24 horas por dia?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

rosTos

Dir-se-ia que as expressões falam por si. Ou de como é reconfortante sentir a adrenalina estampada nos rostos de quem festeja, seja o que for. Sofia Vieira acaba de bisar à boca da baliza e Edite Fernandes celebra o hat-trick na jornada inaugural do Mundialito. Ambas ao serviço da selecção feminina de futebol que ontem goleou as ilhas Faroé por 5-0. Neste ambiente fúnebre e macambúzio em que Portugal se tornou, são revigorantes estas imagens.
Sofia Vieira, Rio Maior, 1987
Edite Fernandes, Vila do Conde, 1979

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

poTencialidades

Ainda que remota, é a ambição de um grande número de mulheres conhecer (e levar para casa) o super-homem. A última possibilidade ocorreu ontem em Nova Iorque, mas o investimento circunscreveu-se a uma personagem de banda desenhada. As expectativas não eram animadoras e a aquisição ficou por um milhão de dólares (cerca de 735 mil euros), o que não deixa margem para romantismos. Espremida a ocorrência, diz a notícia que se tratava do primeiro número de “Action Comics”, publicado em Junho de 1938. Curiosamente, a revista vendia-se na altura a dez centavos (de dólar) e assinalava o nascimento das estórias em quadradinhos de super-heróis. Foi o que se pôde arranjar.

Joseph “Joe” Shuster e Jerome Jerry Siegel
Joe Shuster (1914-1992), Jerry Siegel (1914-1996)
Super-Homem, capa
Superman, Action Comics nº 1, 1938

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

saTanás

Bento XVI resolveu-me uma contrariedade. Em miúdo, quando resistia cinco ou dez minutos na cama para adiar a minha entrada na escola logo de manhã, insinuavam que era o belzebu a tentar pôr à prova a minha capacidade de resistência. Tratava-se de uma poção diabólica, poderosíssima, aspergida certamente enquanto eu dormia mas que teria que saber neutralizar usando todas as minhas forças. Fui sempre bastante céptico. Recordo-me no entanto que se tratava de uma luta desigual, que raramente venci e me acompanhou até ontem, quando soube que o papa revelou alguns dos princípios do mal que me afectou toda a vida. Devemos "vencer as tentações do maligno”, terá dito Ratzinger no seu habitual discurso do Angelus, na Praça de S. Pedro. "O poder, a necessidade de bens materiais e a ambição" – além do “hedonismo”, sublinhou mais adiante – são tentações do diabo que devem ser reprimidas. Li bem: o hedonismo. Está explicado o meu problema.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

deSespero

A violência não passa de um acto de cobardia. À boleia do “Dia Europeu da Vítima de Crime”, que hoje se assinala, deveríamos repetir a frase uma centena de vezes. O silêncio pode ser ensurdecedor.
APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, 1998
Campanha “Quebre o silêncio”, pormenor, 2005

domingo, 21 de fevereiro de 2010

haBilidades

De dedo em riste, o ex-chefe do governo espanhol arrumou de uma assentada qualquer possível desentendimento com os estudantes da Universidade de Oviedo e fez a sua avaliação dos acontecimentos. Rigorosa, contida, subliminar. O gesto é tudo.

José María Aznar, Madrid, 1953
(José María Alfredo Aznar López)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

inSurreição

O título é curto e grosso: “Quero que a imparcialidade se foda”. Sem rodeios, o jornalista João Céu e Silva do “Diário de Notícias” cavalgou a onda do impacto da revelação e promoveu-a a íman de atracção para a entrevista que a “Notícias Sábado” hoje dedica a Ricardo Araújo Pereira. Noutras alturas abordar-se-ia a aproximação do humorista ao estalinismo do PCP ou falar-se-ia de sexo – por exemplo com quem terá dormido dois antes do encontro no restaurante chinês, ou de como teria sobrevivido às deambulações supostamente libidinosas da “Festa do Avante”. Mas não. Aparentemente hostil, a afirmação decorre de um contexto que os leitores são levados a encontrar nas dez páginas da entrevista: “Volta e meia dizem-me que é muito grave eu não ser imparcial. Eu quero que a imparcialidade se foda, sabe? (…) O humor parte de um ponto de vista sobre a realidade, e cada humorista tem o seu. Não tem o seu e o dos outros”. Poderá parecer uma blasfémia, mas não deixa de ser um dos muitos sinais de inquietação, quando quase tudo à nossa volta ameaça travestir-se de insosso ou cinzentinho. A isenção e a neutralidade não existem quando há opinião. De vez em quando aparece alguém a lembrar-nos disso.

Ricardo Artur de Araújo Pereira, Lisboa, 1974
Ilustração
de Duploele, pormenor, 2008
[ver aqui]

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

inCompetência

Até quarta-feira, Julianne Moore parecia-me menos desastrada (e nada disléxica) na consumação prática dos sinais de afecto, mas aqui decepcionou-me. Na apresentação do seu novo filme, da realizadora Lisa Cholodenko – com quem partilhou a performance na Berlinale –, a actriz arrasou o nível de excelência a que nos habituou e demoliu todo o capital de confiança que nela depositava. Que beijo tão mal dado!

Lisa Cholodenko, Los Angeles, California, 1964
Julianne Moore, Fayetteville, Carolina do Norte, 1960
The Kids Are All Right, 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

cumPlicidade

Deve-se falar de saudade? Huckleberry Finn foi um dos meus companheiros predilectos de infância, ao lado de Tom Sawyer e Robinson Crusoé – o meu mundo não seria o mesmo se não tivesse descido a seu lado, Mississipi abaixo, às cavalitas do amigo Jim. Tantas diabruras partilhadas! Hemingway disse delas que foram a raiz de toda a literatura norte-americana moderna: “Não havia nada antes. Não houve nada tão bom desde então”. A publicação d’As Aventuras cumpre hoje mais um aniversário e eu reforço a certeza que, na meninice, quem não leu Huckleberry Finn não foi feliz.

Mark Twain, EUA, 1835-1910
pseudónimo de Samuel Langhorne Clemens
As Aventuras de Huckleberry Finn
The Adventures of Huckleberry Finn, 1884

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

alTernativa

“As duas doenças mais graves do mundo são a Intolerância e a Indiferença” – a frase é do fundador da AMI e pode ler-se no seu blogue pessoal, a que deu o nome “Contra a Indiferença”. Fernando Nobre é médico e foi membro activo dos “Médicos Sem Fronteiras”, entre 1977 e 1983, antes de criar a “Assistência Médica Internacional” em 1984. Anunciou há momentos que irá candidatar-se à Presidência da República. Uma agradável surpresa.

Fernando Nobre, Luanda, Angola, 1951
(Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

carNaval

Este pormenor da capa do valter hugo mãe cumpre os desígnios do Entrudo: aparenta ser um acto transgressor, encobre a exuberância da condição humana, disfarça comportamentos e indicia a prática luxuriosa de uma qualquer actividade lúdica (e lúbrica). Não há rostos para estes pés, cirurgicamente dissimulados – a máscara perfeita. O filtro social dos desvarios a que nos vamos impondo tem destes intervalos.

valter hugo mãe, Saurimo, Angola, 1971
a máquina de fazer espanhóis , Alfaguara, Objectiva, 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

uSura

Os quatro maiores bancos privados a operar em Portugal registaram 1,4 milhões de euros de lucro em 2009, ou seja quase quatro milhões de euros por dia – mais 14% que em 2008. Segundo o “Jornal de Notícias”, o montante apurado serviria, ao custo previsto no programa do Governo, “para financiar a construção de dez barragens”. Um verdadeiro pecado da gula.
Não vou acreditar que seja verdade.
Tio Patinhas, 1947
Uncle Scrooge
Carl Barks / Walt Disney Company
Carl Barks, 1901-2000

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

líBido

O que tem George Clooney que eu não tenha?! Ainda mal refeito da investida da “Nespresso”, dou por mim a constatar que o charmoso continua a ser uma fonte inesgotável de fantasia para o imaginário feminino. A juntar à rebaldaria, soube agora que Vera Farmiga reconheceu ter aceite o papel no filme “Up in the air” para poder beijar George Clooney. “Obviamente essa foi a minha principal motivação”, terá admitido a actriz. Aqui fica o meu protesto.

George Clooney, Lexington, 1961
Vera Farmiga, Passaic County, 1973

“Nas nuvens”, 2009
“Up in the air”; realização: Jason Reitman
Vera Ann Farmiga, Passaic County, Nova Jersey
George Timothy Clooney, Lexington, Kentucky

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

anSiedade

A crise complica-se a olhos vistos. Agora parece ter chegado a vez dos banqueiros: as suas mulheres, namoradas e amantes juntaram-se e criaram um blogue para amaciar as contrariedades da vida cor-de-rosa. Chamam-se “Dating A Banker Anonymous” (DABA) e reclamam que a crise está a destruir-lhes as relações amorosas. O apelo é dramático: “Namoras ou conheces alguém que namore com um banqueiro? Então aqui estamos para te apoiar nesta hora difícil. Trata-se de um site onde podemos juntar-nos e partilhar as nossas tristes histórias sobre como a crise afectou os nossos romances”. A vida está difícil.

Edvard Munch, 1863-1944
O Grito, pormenor
Skrik (1893), óleo, têmpera e pastel sobre cartão 91 x 73,5 cm
Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

reDenção

O Livro

"Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria. Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido. (…)”

“A Invenção do Dia Claro” (1921)
Almada Negreiros

José Sobral de Almada Negreiros, 1893-1970

conCupiscência

Ontem fui acometido por uma crise existencial. Quando invocava o nome de Carla Bruni senti-me desafiado por esta foto, mas a contenção moralista sobrepôs-se a uma suposta indignidade. A moral é uma faca de dois gumes: domestica o pudor ou censura a consciência. E hoje não resisti: atrai-me esta fotografia. Há algo de inofensivo e simplicidade na atitude, uma espécie de inocência imaculada. É como se o desdém suplicasse a eloquência deste olhar.
Não se é indiferente quando se quer, mas quando se pode.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

reTaliação

Uma das cantigas concorrentes ao Festival de San Remo, em Itália, ironiza com a relação conjugal do presidente francês. Carla Bruni não gostou e fez saber que já não participa no certame. Com o amor não se brinca, terá desabafado a ex-modelo. Ai ai que não se brinca…
Carla Gilberta Bruni Tedeschi, Turim, Itália, 1967

domingo, 7 de fevereiro de 2010

êxTase

"Queria perceber a evolução das expressões da mulher durante o orgasmo até à do sofrimento final, em que parece estar a ser torturada", justificou o fotógrafo ao Diário de Notícias. As fotografias, de grandes dimensões, são de Clara Pinto Correia e foram registadas pelo seu marido, o jornalista (e ex-cartoonista) Pedro Palma. Levantou-se um alvoroço genuinamente moralista, em torno da performance, mas a bióloga deve estar a rir-se neste momento. A exposição encerra hoje no Centro Cultural de Cascais.
Ver mais aqui.

Clara Pinto Correia, Lisboa, 1960
Pedro Palma, Serpa, 1959
"Sexpressions", pormenor
Pedro Palma vs Clara Pinto Correia
Dez fotografias 100 x 150 cm

sábado, 6 de fevereiro de 2010

enTusiasmo

O seleccionador nacional Artur Jorge foi esmurrado em Março de 1997 por Sá Pinto que agrediu Liedson em Janeiro de 2010. Dezassete dias depois, em Fevereiro de 2010, o seleccionador nacional Carlos Queiroz envolveu-se em cenas de pancadaria com o jornalista desportivo Jorge Baptista.
E depois?! Era o que Astérix e Obélix adoravam fazer e não veio nenhum mal ao mundo por isso.

René Goscinny e Albert Uderzo
Uderzo (1927), Goscinny (1926-1977)
O Combate dos Chefes
Le Combat dês Chefs, 1966

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

desConto

Em 1980 o Dresdner Bank comprou o “L'Homme qui marche” de Giacometti. Em 2008 o Dresdner Bank foi adquirido pelo Commerzbank por 5,1 mil milhões de euros, que o absorveu no ano seguinte, juntamente com a escultura. Anteontem a obra de Giacometti acabou em leilão, na Sotheby’s, e foi arrematada por 74,2 milhões de euros. Os números assustam? Assustam, mas a peça é bonita.
Alberto Giacometti, Itália, 1901-1966
O Homem que caminha, escultura em bronze h/183 cm
L'Homme qui marche I (1961)
Fotografia de Henri Cartier-Bresson: Giacometti no seu atelier,
junto à escultura (1961), pormenor

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

enVelhecer

“Uma Agulha no Palheiro” – o título do romance ficou para a história da literatura como uma referência quase obrigatória. J. D. Salinger, o seu autor, deixou-nos um destes dias, há muito zangado com o mundo. Dele ficou célebre a frase: “Todos nós crescemos mas há uns que se limitam a envelhecer”. Chega a ser cruel a lucidez do escritor, mas o retrato parece ser fiel. Andamos tão irritados com o mundo que não conseguimos libertar-nos do melindre e da sisudez que nos acompanha, ressabiados que estamos com a vida.
Uma curiosidade que desconhecia: no momento em que Mark Chapman assassinou John Lennon, em 1980, acabara de pedir ao ex-Beatle que autografasse o livro de Jerome David Salinger, “Uma Agulha no Palheiro”.

J. D. Salinger, EUA, 1919-2010
Time (capa), 15.09.1961, ilustração de Robert Vickery

Uma Agulha no Palheiro, Livros do Brasil, 1951
À Espera no Centeio, Difel, 2005
Título original: “The Catcher in the Rye”, 1951

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

fasCínio

Quando era miúdo ficava maravilhado com a magia deste auto-retrato de Norman Rockwell. Imaginava-me atrás daquele banco a observar-me ao espelho e a repetir aquele momento exacto, cujas tentativas laboratoriais fui ensaiando sem qualquer sucesso – embora o feitiço tenha permanecido intacto. Hoje o “Google” dedicou-lhe o doodle com o pôr-do-sol de 1926, publicado no “Saturday Evening Post”, mas eu continuo a preferir o triplo auto-retrato de 1960. É como se os dois ali continuassemos e ele me tivesse descoberto ao ver-se reflectido. Todos temos os nossos heróis.

Norman Rockwell, EUA, 1894-1978
Triplo auto-retrato, pormenor
Triple self-portrait (1960), óleo sobre tela 113 x 88,3 cm
Norman Rockwell Museum, Stockbridge

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

graMmys

Beyoncé terá sido a rainha da noite em Los Angeles, mas Taylor Swift foi quem saboreou o Grammy pelo melhor álbum do ano. Não importa que no final tenha deixado cair – e partido – um dos quatro troféus conquistados, mas passou a ser a artista mais jovem a conquistar o prémio naquela categoria, sucedendo a Alanis Morisette (que contava 21 anos em 1996). Taylor é actriz, cantora, compositora e tem 20 anos, adocicados com um cheirinho a country-music como eu gosto.
À “Rolling Stone” confidenciou que pretende transformar a sua nova casa, em Nashville, num palácio de conto de fadas: ”O tecto da minha sala vai ser pintado da cor do céu à noite”. A miúda promete!
Taylor Alison Swift, Wyomissing, EUA, 1989

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

oLhares

É curiosa a obsessão que os fotojornalistas – ou as redacções dos jornais – revelam ao procurar encontrar, em todos os ângulos possíveis, o sinal de identificação das desavenças entre estes dois homens. Nas duas fotografias que o jornal “Público” hoje dedica às cerimónias realizadas ontem no Porto, no âmbito das comemorações do Centenário da República, Sócrates olha para o chão enquanto o Presidente da República o cumprimenta (primeira página) e Cavaco desvia discretamente o olhar para a sua direita ignorando a presença do primeiro-ministro, que deixa descair levemente o rosto na mesma direcção (página quatro).
Filosoficamente agrada-me esta benemérita propensão dos jornalistas portugueses, isenta e desapaixonada, de conseguir depositar nos olhares de duas criaturas o futuro do país. É gratificante.
Aníbal Cavaco Silva, Boliqueime, Loulé, 1939
José Sócrates C. Pinto de Sousa, Vilar de Maçada, Alijó, 1957